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terça-feira, 11 de agosto de 2009

Entrevista com Bell Marques!!

O principal da vida de Bell Marques é que ele tem o sobrenome Chiclete com Banana. Esse privilégio, que resulta de uma longa caminhada de20 anos,o vocalista da banda mais premiada do Carnaval brasileiro credita a um trabalho sólido. A trajetória desse grupo, que é referência para muitos artistas por apresentar uma postura extremamente profissional, resulta em um sucesso estrondoso confirmado por mais de 5 milhões de cópias vendidas. Por trás dos cabelos cacheados, presos por um bandana, marca que o identifica, está o maior brilho do Chiclete com Banana. É um empresário com enorme talento artístico, como bem define Aninha, sua esposa e companheira de 20 anos. Segundo o próprio, uma pessoa importante para ele mesmo, sua família e amigos. Sem estrelismos, apesar de ter chegado lá e conquistado tudo e muito mais que queria — como uma belíssima residência, casa de praia e mais uma nova aquisição, a compra de uma ilha — sbanja simplicidade, simpatia e bom humor. “Não me sinto artista nem um stro. Muitos acham que eu sou um Deus, rezam para mim, me referenciam. Eu agradeço isso todos os dias, mas sei que não sou Deus. Tenho os pés muito bem plantados no chão.
- Conte um pouco da sua história. Todo mundo sabe quem é você, conhece o músico, mas o pai de família, o cidadão...- Eu nasci no Terreiro de Jesus, no Centro de Salvador, nº 11. Tenho mais três irmãos e morei uma parte do tempo em um local chamado Tororó, no Amparo do Tororó, 120, e vivi uma belíssima de infância por lá. No Tororó, foi quando eu comecei a despertar para essa coisa do violão. Eu acho que isto desperta a partir do momento que você começa a sua adolescência, começa a querer cantar e encantar as meninas do bairro. Roberto Carlos era o auge da época. Eu cantava todas as canções de Roberto Carlos porque realmente eram muito interessantes. E daí vem Renato e seus Blue Caps. Eu vim cantando, meus irmãos já faziam parte, minha mãe era uma pessoa que gostava muito de cantar. Eu ouvia muito minha mãe cantando e nunca achei que tivesse uma tendência musical muito grande, porque na minha família não tinha alguém que tivesse despontado musicalmente.
- Sua mãe foi a maior incentivadora?- Minha mãe sempre foi uma pessoa muito incentivadora neste aspecto. Ela incentivava os meus irmãos, que eram mais velhos, a tocar e também tocava instrumentos com eles.- Vocês eram da classe média?- Sim, da classe média. Depois passamos por uma crise muito difícil na nossa vida. Viemos da média para a baixa, mas sempre nessa luta. Daí eles tinham esse grupo, começaram a tocar e trabalhar. Esse grupo chamava-se Elétrons e chegou um momento que um dos componentes saiu e eles quase chegaram a se desfazer. Aí, Vadinho, meu irmão, disse que eu tinha que aprender a tocar teclado, porque quem estava saindo era um tecladista. - Depois do violão, veio o teclado para compor a banda?- Eu tocava muito mal o violão e ainda tinha que aprender a tocar teclado em uma anda. E o pior não era isso, precisava aprender em 15, dias porque eles tinham um show programado para uma cidade do interior da Bahia. E eu fui. Aprendi os acordes naturais, os primeiros que eu não sabia dar e comecei a tocar. Solei algumas canções. Daí, nós juntamos esse grupo que se acabou porque Wilson meu irmão saiu para estruturar a vida dele. Não queria mais cantar. Saiu para casar.
- Então vocês continuaram com outra banda?- Nos juntamos com um grupo chamado Scorpius, onde tinha dois músicos. Eu entrei com Vadinho, meu irmão, pois toda a banda Elétron se desfez. Segui tocando teclado, mas nós perdemos um guitarrista muito bom, o Luiz Brasil. Um dia, estava no Carnaval com a minha mulher Aninha, em paquera ainda, na avenida Sete, quando dobrou, ali na Casa de Itália, um trio elétrico, o de Dodô & Osmar. Foi na época do Pombo Correio e vinha em cima o Moraes Moreira, um dos grandes ídolos e referência da minha vida. Caetano Veloso vinha em cima desse trio com Armandinho, Aroldinho, todos eles com Osmar. E quando eu virei – aquela imagem não me sai da memória nunca –, vi que eles traziam uma alegoria na frente: era uma pomba enorme batendo as asas, simbolizando a música Pombo Correio, que foi um sucesso estrondoso naquele Carnaval. Eu olhei para aquilo e fiquei encantando. Fiquei olhando para aquilo, não sabia o que dizer. Não sabia se eu chorava, se sorria. Eu fiquei olhando para aquilo, encantado. Acho que é como as pessoas ficam comigo hoje. Fiquei assim naquele momento e aí decidi que aquilo seria minha vida. - O trio de Dodô & Osmar fez você despertar?- Eu saí dali dizendo que ia entrar naquele mundo. Achava que aquilo ali ia ser o próximo passo da minha vida. Eu tinha que fazer parte desse mundo. Saí dali e vim embora para o local de encontro, onde a gente se reunia, que era uma boate. E falei para o pessoal que a gente ia mudar a banda completamente. Vamos deixar de ser banda de rock and roll e vamos montar um trio elétrico.
- Como estava a situação financeira da banda na época?- Nós estávamos falidos, devendo muito, sem dinheiro nenhum. Estávamos quebrados. Isso foi em 1979, por aí. Eu assumi diretamente as rédeas disso e fiz uma mudança logo ali dentro da banda. Pela tendência do músico, mudei a banda e a estruturei para cima de um trio elétrico. O guitarrista – que era Rey, e atualmente baterista, de novo – a partir daí passou a tocar percussão. O contrabaixista, um amigo nosso que não faz mais parte, era Gato, que tocava baixo e foi tocar guitarra baiana. Ele tinha uma tendência para o cavaquinho, tocava um pouquinho. O outro irmão dele, que era Adams, que está nos Estados Unidos, era baterista na época e tinha também uma leve tendência para instrumento de cordas, o bandolim. Aí, eu o passei para a guitarra baiana. Eu, que era tecladista, e naquela época não tinha teclado no trio elétrico, passei a tocar contrabaixo. E Vadinho que era guitarrista passou a fazer locução e tocar um instrumento de percussão. Juntamos mais pessoas e começamos a ensaiar. Montei esse grupo, cantava e imitava Moraes Moreira que passou a ser o meu grande ídolo, minha referência na época de Chão da Praça. (ele canta: “olhos negros, cruéis, tentadores). E eu tinha que colocar isso em ação. Não tinha trio elétrico, não tinha dinheiro, só tinha a intenção.
- Quando a banda fez sua estréia tocando em um trio elétrico?- Eu fui para a rua e alguém passou no meu ouvido e disse: existe um bloco na Barra que está precisando de um trio elétrico. Era o bloco Trás os Montes, na época o melhor conceituado pela elite da Barra, como é hoje, como referência, o Camaleão. Fui à diretoria e disse que tinha um trio elétrico, uma banda e que queria tocar com eles. Aí, eles me perguntaram: que trio elétrico? Eu não tinha trio elétrico nenhum. Inventei que tinha comprado uma carroceria do grupo Novos Baianos, que tinha saído no ano anterior. Inventei uma desculpa. E disse, também, que tinha um som. Inventei uma mentira lá qualquer. Mas, como dizem que toda grande mentira dita a seu próprio favor é uma grande verdade, fui me baseando nisso. E dentro da diretoria deles existia um componente que conhecia a Banda Scorpius tocando rock and roll. Era um dos diretores, chamava-se Ary e achava a banda boa. Já tinha visto a gente tocando rock, não tocando Carnaval. E esse aval foi uma coisa importantíssima nessa reunião. E eles me pediram um preço e eu dei. Não me lembro qual foi, mas não era nada absurdo. Eles ficaram de pensar e, quando eu voltei na próxima reunião, me disseram que não queriam o meu trio elétrico e sim a nossa banda. O trio elétrico seria o Tapajós, que é um dos grandes ícones do Carnaval da Bahia.
- O que fazia sucesso era o trio elétrico, em vez do grupo musical?- Naquela época, na verdade, não era o grupo musical que importava. O que representava era o nome do trio elétrico. E todo bom baiano, que já fez sucesso, já subiu ou fez o seu sucesso em cima do trio elétrico Tapajós. Ele foi a grande escola dos trios elétricos da Bahia. A nossa estréia foi logo em seguida, numa das apresentações que aconteciam na Barra, que eram uma mostra dos blocos. Como não havia 60 blocos, como tem hoje, eram bem menos, os melhores se apresentavam e faziam aquelas apresentações-relâmpagos para influir na venda de abadás, que na época eram macacões.- Como foi a primeira vez em cima do trio?- Foi horrível, porque nós não tínhamos costume. Não era como hoje, todos juntos. O trio elétrico era dividido. Por isso que é trio. Em cima ficavam as duas guitarras baianas e o contrabaixo. A percussão ficava nas laterais. Não havia aqueles montes de caixas de som nas laterais e sim um monte de homens. E bem em cima ficavam aquelas bocas de alto-falantes, aquelas que se usavam em poste, de metal, porque o trio elétrico não cantava, só tocava. A percussão foi um desastre. A gente tocava uma coisa em cima, e do lado o ritmo era outro. Ninguém conseguia se entender. Eu desci com uma dor de cabeça horrível. Olhei para trás na porta do trio elétrico, soltei um palavrão e disse: amanhã todo mundo ensaiando. Estava com raiva de mim mesmo.- Como eram os ensaios?- Nossos ensaios passaram a ser feitos de uma forma diferente. Nós colocávamos os músicos uns de costas para os outros. Por exemplo: como cada lado de um trio elétrico tem cinco percursionistas, a gente ensaiava colocando cinco olhando para a parede, cinco olhando para o outro lado e os músicos de corda no meio, para mais ou menos simular um trio elétrico. Aí veio o Carnaval. E nós fizemos um Carnaval razoável em cima do trio elétrico Tapajós.
- Qual foi na verdade o grande diferencial da sua banda?- Foi no ano seguinte, quando veio o grande boom do Scorpius – ainda não era Chiclete com Banana. Nós resolvemos fazer uma modificação no trio elétrico. Achávamos que o nosso grande forte era o canto. Então, onde havia homens embaixo, nós resolvemos colocar caixas de som. E mudamos o estilo de sonoridade do trio elétrico. Nós começamos a colocar caixas de som que emitiam um som de alta qualidade. O pessoal dos trios elétricos mais antigos começou a dizer que aquilo não funcionaria, que quando chovesse ia molhar os alto-falantes e o som iria parar automaticamente. Começamos a usar aparelhos transistorizados, que na época ninguém usava muito – usavam aparelhos com válvulas. Uma série de coisas técnicas. Mas conseguimos fazer isso e dar uma grande virada no Scorpius. Fizemos um grande sucesso.
- Como veio o primeiro disco?- Surgiu a oportunidade de gravarmos o primeiro disco. Eu resolvi mudar o nome do grupo, porque achava que Scorpius era muito ultrapassado, muito rock and roll. Pedi a um cartunista baiano, o Nildão, que é meu cunhado, uma relação de nomes e entre eles veio o Chiclete com Banana, que ele tinha pinçado da música do Jackson do Pandeiro. Na verdade, nós queríamos um nome que atraísse o interesse das pessoas. Era tudo muito rotulado, americanizado. Nós queríamos alguma coisa que representasse a gente de verdade. Ele, ouvindo as nossas canções, percebeu que tínhamos uma mistura muito grande de ritmos, que ia desde o chorinho acústico até o rock, passando pelo Carnaval. Nós levamos isso para o ensaio, mas houve uma grande rejeição pelo grupo. Eu e mais outro achávamos que funcionaria, outros dois nem tanto, e os demais achavam que não daria certo. Porque o nome Scorpius era bastante conhecido dentro da nossa cidade, tínhamos tocado e feito muitos shows. Mas o grande aval veio do produtor na hora de gravar o disco. Quando disse o nome Chiclete com Banana, ele achou uma maravilha. E fizemos outra grande mudança, porque antigamente fazia-se muito baile. E nos bailes era das onze da noite até quatro da manhã tocando. Eu achava aquilo muito chato. Uma vez fomos fazer um show com o A Cor do Som, no mesmo lugar que a gente tinha costume de tocar. E eles foram, com toda aquela pompa, enquanto nós entramos andando a pé. Nós ficamos analisando: era o mesmo público que colocávamos lá todo sábado, mas o nosso cachê era um terço do valor. Mas eles tinham um disco fazendo sucesso... e eu fiquei pensando naquilo.
- Então havia chegado a hora de mais uma mudança, a hora da virada?- Como era eu que vendia o grupo, carregava caixa do som, cantava, recebia o dinheiro, viajava, tratava com a gravadora, fazia de tudo no grupo, chamei todo mundo e disse que ia jogar uma cartada arriscada. Pode dar certo e pode dar errado. Nós vamos passar por uma situação um pouco ruim no começo, mas teremos que acreditar nisso para virar, senão jamais vamos sair desse ritmo e não vamos conseguir levantar dinheiro nunca. A partir disso, quando eu comecei a ver que A Cor do Som tinha na verdade um mesmo público mas um cachê mais que dobrado, eu mudei. Quando alguém ligava para contratar o Chiclete com Banana eu dizia: tudo bem, mas eu não toco mais de dez até quatro da manhã. Eu lancei um disco, comprei um equipamento novo, uma iluminação profissional e agora só toco duas horas de show e para me contratar tem que colocar uma outra banda. Estou com um grupo fazendo um sucesso absoluto que na verdade não é mais um grupo de baile, é de show. E o cachê não é mais aquele (se era R$ 2 mil eu colocava R$ 6 mil). Só toco duas horas, contrata outra banda que eu vou lotar a sua festa... Com isso, nossa valorização foi imensa. Passamos a ganhar três vezes mais e diminuir nosso tempo de trabalho. E aprendi uma outra coisa na minha vida: quando você paga mais, respeita mais; quando paga menos, respeita menos. Por isso, deixei de fazer shows beneficentes. Por várias e inúmeras vezes dei shows beneficentes e todos que fiz foram um fracasso. Por quê? Porque quando você recebe uma coisa de graça não se empenha para que aquilo tenha um bom resultado.
- Você mostrou uma excelente estratégica de marketing, mas tinha um produto muito bom...- Meu produto era muito bom, só que ninguém enxergava nem valorizava. Nós seguimos com essa estratégia que foi a grande alavanca da nossa trajetória. O trio elétrico foi comprado e a gente não tinha o dinheiro ainda. Todo o dinheiro que nós ganhávamos com o Chiclete com Banana era usado para pagar dívidas que tinham sido ficado da falência de um restaurante. Eu pagava todo mundo e não sobrava dinheiro. Hoje, para eu ter um aval é muito fácil, mas na época não tinha nada. Tinha dívidas e dívidas, não era fácil. O cara tinha que ser muito amigo e acreditar em mim. Mas tive algumas pessoas que me avalizaram e, quando não, deram o apoio moral. Essa força, essa credibilidade, foram muito importantes. Eu tive o pai de Aninha, J. Dias, e dois outros amigos, Edson e Roland de Aguiar. A mãe de Aninha, Ana Socorro, também contribuiu muito, porque eu casei com Aninha nessa época, em 1981, e fazia da casa deles o meu escritório. Eu morei com eles seis anos, uma família com dois senhores e uma filha. O telefone deles tocava de 10 em 10 minutos, e não sei como eles não me colocaram para fora.- Qual é a melhor tradução para a banda Chiclete com Banana?- Chiclete com Banana traduz bem essa mistura do rock and roll americano com chorinho brasileiro. É uma coisa tropical-americana, acho que bem representada pelo Chiclete com Banana.- A relação familiar sempre foi muito presente para você, que estendeu isso à família de sua mulher...- Minha mãe colocou esses conceitos para a gente. Se você estiver com seu irmão, é mais forte. Em qualquer situação, procure ficar junto, se unir, estar próximo. Procure ser irmão. E mesmo que o seu irmão não lhe trate como irmão, seja irmão dele.

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